quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Salvamento


Estava quente, um calor de verão carioca daqueles e não resistir em me jogar de cabeça naquela imensidão azul que me convidava para um mergulho.
Mergulhei, mergulhei fundo mesmo, me senti um peixinho e nadei como se fosse do mar, achei que nada de ruim pudesse me acontecer. Brinquei na água como uma criança que vai à praia pela primeira vez, achando tudo diferente, lindo, gostoso, mas que ainda não conhece as artimanhas do Deus Mar.
De repente, quase num golpe, fui laçada, jogada, chocoalhada e tomei caldos, derrubadas, fui fundo demais e comi areia no fundo do mar . . . o mar me bateu!
Me machuquei como nunca, ralei, sangrei e quase fui engolida. Quase me entreguei e desisti de lutar, quase acreditei que não veria mais a superfície.
Fui as ultimas consequência e só no ultimo instante, talvez aquele em que antecede a própria morte, olhei pra mim e pensei: Não posso morrer na praia, não vou me perdoar se não me salvar!

Foi então que decidi nadar até a exaustão pra me salvar, custasse o que custasse. 
Apesar da dor e do desespero, busquei manter meu pensamento e meu posicionamento como um soldado em guerra, nadando sempre em frente pra defender e salvar a própria vida. Coração explodia no peito, afogava-se sem ar. Fui brigando comigo e com a força contrária, com as ondas, as marés ''baixas". Não olhei mais pra trás e segui nadando confiante . . . numa altura boiei, deixei o corpo cansado ser levado sozinho pelas ondas até o raso . . . confiei em Deus, confiei em mim, direcionei meus pensamentos para a vida. Por uma onda forte fui jogada pra fora do mar e largada ali na areia, sem fôlego, sozinha, no escuro, me sentindo fraca. Não sei quantos dias ou horas fiquei jogada alí naquela areia, mas quando abri meus olhos o sol brilhava forte quase me cegando. Olhei em volta, olhei pra mim, para as marcas de uma luta solitária e tomei impulso pra ficar de pé novamente. Fiquei tonta, muito tonta, mas firmei meus pés na areia e busquei o equilibrio. 


Ouvi uma música tocar baixinho no meu ouvido. O volume foi se intensificando, os acordes me sorrindo, o arranjo era conhecido e me senti voltando pra casa, íntima, protegida.
A música e todos os meus mestres, guias, orixás, santos, duendes, luas, florestas . . . foram me buscar no fundo do mar, estiveram no momento da guerra comigo e me deram a força que eu precisava pra nadar e não desistir do meu próprio salvamento!


Não vou fugir do mar, mas por enquanto quero ficar longe, quero descansar. Só volto a brincar e mergulhar na sua imensidão quando aprender a diferenciar um mar manso e confiável de um mar revolto e traçoeiro!