quinta-feira, 20 de maio de 2010

Trinta minutos no meu divã

Como de costume, quinta-feira é dia de consultório, dia de total dedicação para a reflexão dos conflitos alheios. Alheios? Não, não são mais alheios, não pra mim.
Já se passavam 20 minutos da sessão quando liguei para o paciente e, qual não foi a minha surpresa, ele estava enrolado e a terapia ficara para segundo plano, ou melhor, para a próxima semana. Próxima pra ele, pra mim ainda faltavam 30 minutos da sessão. 
Resolvi fazer 30 minutos de inteiro silêncio acordado comigo mesma no consultório. Mantive o clima de pouca luz, acendi a vela de canela pra dar uma provocada e deitei no divã.

Meus 30 minutos de DIVÃ se resumem em algumas poucas linhas, poucas linhas sim, mas assim como a terapia, foram os 30 minutos mais preciosos do meu dia!

Quando era mais nova meu inquieto esconderijo era por demais barulhento, vivia envolvida por muitos sons interiores, dias e noites de muitas vozes.
Não falo de esquizofrênia, talvez ego em conflito com a própria consciência - risos!
Não eram vozes do além, nem tão pouco vozes de outros, era uma espécie de conflito com eu's aprisionados em mim, eus que lutavam por uma liderança - mais risos!
Hoje meus sons são mais profundos e vibratórios, acalentadores - quase sempre!
O silêncio vem habitando, já por alguns anos, meu ser de luz com excelência. A sensação é de plenitude, leveza, transporte, quase um desligamento, como um off necessário.
Acredito que com o tempo a gente vai ouvindo menos barulho mesmo, menos vozes, menos o externo, menos os ruídos e priorizando só o que nos interessa muito.
Vai reconhecendo mais o silêncio do nosso real eu interior, aprendendo a escutar com boa frequência o som do silêncio e, com isso descobrindo que o silêncio está por dentro e não do lado de fora.
Cada dia interajo mais com esse meu silêncio interior e o que antes me parecia esconderijo, hoje se revela abrigo.
E é nesse meu abrigo que me fortaleço, é nele ou através dele, que me ouço, que reaprendo a ser eu mesma sem ouvir o som das interferências.
Então, hoje já consigo expressar melhor o que ouço do silêncio que me vem de dentro, do que do antigo e barulhento esconderijo das vozes que me habitavam.
O silêncio interior é hoje a minha melhor festa!


* Lembrei que ontem ao almoçar com amigos no Térèze, abri em plena mesa de degustação, com direito a bom vinho e tintilar de taças, uma página da minha história. Contei-lhes sobre um período da minha pré-adolescência que fiquei quase 1 ano monossilábica.  Resultado ou consequência de um trauma, óbvio! Mas...isso fica pra num futuro post, quem sabe? 

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