quarta-feira, 12 de agosto de 2009

O selinho

Tudo começou na década de 80 quando cursava o antigo 2º grau, éramos um grupo de amigos que mais parecíamos irmãos pela imensa entrega e envolvimento afetivo.
Naquela época, a poesia, a música, o movimento hippie, os ensaios de teatro, as roupas soltas e ousadas, as cores, a censura, a política e a liberdade de expressão foram ingredientes fundamentais para a nossa formação e transformação em cidadãos mais “cabeças”, irreverentes, ousados, liberados. Podemos afirmar inclusive que, com nossa ousadia e enfrentamento, contribuímos e muito, para que o mundo pudesse receber com mais liberdade, os que nasceram depois.

Então. . .Foi nessa inebriante descoberta da adolescência, ouvindo ainda The Jackson Five na voz do que viraria Michael Jackson, que dei meu selinho pela primeira vez. Esse ato naquela ocasião, era uma atitude e expressão de liberdade que transgredia, representava coragem, irreverência, poesia, afeto e desprendimento. Amigos de verdade se cumprimentavam e se reconheciam com um beijinho nos lábios, era seco mas representava intimidade e companheirismo, era chamado de estalinho e depois virou selinho.

Hoje tenho ainda seguidores desse movimento de afeto que independe de sexo, raça, religião, orientação sexual, etc e tal. Seguimos os moldes daquela época e disseminamos tal expressão de afeto entre outras décadas. Continuo a selar meu afeto de amizade no cumprimento com alguns amigos (as), aliás, selo afeto com beijinho na boca até com meu sobrinho e afilhado. Experimentamos a “bitoca” quando ele ainda tinha 1 aninho de idade e hoje, ele com 24 aninhos, namorando sério uma bela jovem (que aliás, nunca se incomodou), ainda continuamos a selar nosso afeto sem nenhuma represália ou interferência, sem ao menos nos lembrarmos de que o beijo é na boca, pois não é essa a questão mais importante – onde é o beijo, mas sim em quem é e o que representa.

O que vejo hoje são uns beijos audaciosos que me atrevo até chamá-los de maliciosos, entre alguns amigos (amigos?). Não, ainda não foi comigo, mas já existem e são experimentados por aí. Tudo começou quando uma amiga cumprimentou a outra com um beijo de língua por alguns segundos e, sem entender muito bem o que estava rolando perguntei: “Vocês tem um caso ou estão se pegando?” ela me respondeu: “Claro que não, somos amigas, nunca rolou e nem vai rolar nada, esse beijo é amizade, só isso!” Pensei cá com meus botões, que já não são os mesmos da década de 80 - “Como assim? Beijo de língua, beijo molhado com troca de salivas . . . o que sentem ou tentam transmitir uma para outra quando trocam esse beijo?” Não soube me responder, mas presenciei ali uma nova forma de selar uma amizade (de afeto?) em pleno século XXI e me senti fora de moda, me senti careta, incrivelmente ultrapassada! Diante desse superlativo beijo entre amigos (as) dos anos 2000 eu me senti uma bobinha, será que estou distribuindo pouco afeto entre meus amigos? Incrível, mas achei que ainda fosse moderno o selinho, achei que ainda fosse um gesto de carinho e amizade, de profundo afeto e entrega entre amigos íntimos e verdadeiros, aqueles a quem chamamos de irmãos, mas que não se desejam sexualmente. Hoje, alguns trocam as línguas e as salivas para selar amizade, na minha época, isso era “estar a fim, estar namorando, estar ficando”, mas NUNCA estar selando uma amizade. Acho que preciso me atualizar e rever meus conceitos. Como será que essa amizade de afeto íntimo e respeitoso estará sendo selada daqui há mais uns 10 anos?

3 comentários:

  1. Sylvia! Bem vinda ao mundo dos blogueiros!
    Um beijo enorme no rosto, e um suave selinho! Te adoro!

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  2. Nelson Fernanddo18/8/09

    Um selinho do seu amigo lá de trás, do 2º grau, do "bloco da Sylvia" como nos chamava a D. Luzia de português, lembra? Bons tempos... Adorei o blog amiga, mas não quero selinho virtual. Quero selinho real!!!

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  3. Pedro - Pezão27/10/09

    Quero te encontrar morena, quero matar a saudade dos anos 80 e te dar esse novo beijo de selar amizade dos anos 2000.
    Sou eu figura, teu amigo velho das guerras de papel na sala de aula, das partidas de sinuca e cerveja gelada no bar do manê, aquele que te levava pra laje co colégio pra fumar e depois a gente ria sem saber descer dali, hehe!!!
    Um selo gostoso, mas no novo conceito!
    Pedro Reis

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