Hora do almoço é mesmo sagrada, descobri isso somente a pouco tempo e venho praticando, mas sempre chega um . . . e hoje, advinha com quem almocei? Ele mesmo, o meu amigo de mesa e degustação da saborosa gororoba do Sodexho, o Silvio. Enfim conseguimos conversar e almoçar só os dois, isso porque coincidentemente chegamos mais cedo do que a maioria para o almoço.
Ele me contou que mora sozinho há 25 anos e que sempre preservou sua individualidade, é apreciador de música (todas) mas dispensa o Rap. Antes da cirrose medicamentosa (?!?) que adquiriu por precisar tomar 18 comprimidos por dia para o tratamento de um câncer, toda sexta-feira ele comprava uma caixinha de budweiser, 500g de presunto de parma e 500g de queijo emental, colocava pra tocar no seu som uma coleção escolhida a dedo e, mantinha as luzes do seu apartamento (fiquei imaginando essa cena, como se lesse um livro) em estado de conforto dos olhos. Assim ele costumava relaxar da semana exaustiva que seu trabalho proporcionava. Está no Rio desde os 18 anos, mas é baiano de Salvador (eu já desconfiava!), me disse isso com todo orgulho que baiano tem de ser baiano. Não pôde deixar de citar nomes como Caetano, Gil e Betânia, Caymmi, Jorge Amado e até o Gordurinha (tbém não conhecia), responsável por várias músicas de sucesso da bossa nova e marchinhas de carnaval. É claro que o papo foi se arrastando, o almoço ficando mais gostoso, animado e a nossa aproximação bem mais amistosa e relaxante.
Contou-me orgulhoso que por duas vezes foi classificado na competição de nado livre em Salvador, o percurso era da Barra até Itabuna, o que lhe exigiu umas boas braçadas! Esqueci de lhe perguntar sobre seu apreço pela iguaria baiana, aquele bolinho calórico que sou fã, mas essa conversa fica para o próximo almoço.
De repente meu mais novo amigo ex-estranho de almoço, me disse que se aproximou de mim porque me achou muito simpática e educada quando me ouviu brincar com a moça que pesa o prato. Ele completou ainda dizendo que não nos aproximamos das pessoas à toa (sei disso!) e, que com certeza temos alguma afinidade, alguma coisa misteriosa e transcedental (rs) que nos liga. Nessa hora fiquei até preocupada e achei o papo cabeça demais, mas depois de falarmos de signo, escolhas, ética, conduta, simplicidade e prazer, entendi o que meu amigo ex-estranho falava anteriormente. É, com certeza temos muito em comum . . . não olhamos a vida da janela, olhamos da vida para a janela!
Conheci o Silvio ao preferir almoçar só ao invés de almoçar em bando. Estou evitando gente que fala de trabalho na hora do almoço ou que fica fazendo cara de santo enquanto escuta alguém falar mau do seu amigo (?!), de intriguinhas ingênuas que acabam por f....o sujeito. Fala sério, hora de almoço é sagrada, não dá pra carregar a labuta nas costas nessa hora! Aliás, não tenho como me livrar das 8 horas de trabalho escravo todo dia, nem tenho ainda o poder de me tornar invisível quando desejo, embora . . . tenha treinado bastante, rs!
Silvio, tenha um bom almoço no sábado e no domingo e até segunda!
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